Corinthians, “grito sufocado de um povo“ “Ninguém sabia, ninguém desconfiava. O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade. Durante toda a madrugada, os fanáticos do timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema. E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela. Ali, chegavam os corinthianos, aos borbotões. A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha euforia. Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: — “O Rio é uma cidade ocupada“. Não. O texto acima não é de nenhum fanático corinthiano. É do tricolor carioca Nelson Rodrigues. Faz parte de crônica publicada no dia 6 de dezembro de 1976 no Jornal do Brasil. Um dia depois da maior demonstração de corinthianismo em 98 anos de história. O dia em que 70 mil corinthianos invadiram o Rio de Janeiro. Até hoje, é bom lembrar, o maior deslocamento humano em tempo de paz no mundo. É, meus caros, o corinthianismo realmente não se explica. E Nelson Rodrigues se rendeu a essa devoção em 1976. Há exatos 98 anos, no dia 1º de setembro de 1910, jovens operários do Bom Retiro fundavam, à luz do lampião, o Sport Club Corinthians Paulista. Criavam uma obsessão. Uma paixão. Uma devoção. E, para muitos, uma religião. Hoje, são 25 milhões de apaixonados. Fiéis, maloqueiros e sofredores....Ahh, Corinthians! Corinthians do Centenário, do jejum, da invasão no Maracanã, da democracia corinthiana, do Brasileirão de 1990, do Mundial de 2000... Dizia o mestre Toquinho que ser corinthiano é “ir além de ser ou não ser o primeiro”. Ou como proclamava o saudoso Paulinho Nogueira, o Corinthians é a “cachaça do torcedor”. “Quando és o vencedor, pobre fica milionário, rindo da própria dor”, repetia. E para os mais apaixonados, as palavras de Osmar Santos no gol de Basílio em 1977: “Corinthians, o grito sufocado de um povo. O Corinthians é o maior espetáculo do povo brasileiro. Corinthians é alma desse povo”.... Em 98 anos de história, o Corinthians deixou de ser apenas um time de futebol. Virou um sentimento. Há alguns anos, quando finalizava meu documentário “Corinthians, Minha Paixão é Você”, o jornalista e escritor Lourenço Diaféria me disse: “O Corinthians é um fenômeno sociológico ainda não estudado”. Ali, na Marginal Tietê sem número, São Jorge abençoa o clube mais popular do País. Abençoa 25 milhões de fiéis. Fiéis devotos de uma história, uma vida, um amor. Obrigado, Corinthians. Parabéns, Fiel Torcida.
TEXTO ESCRITO POR LECO POLEGAR.
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
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